sexta-feira, 12 de maio de 2017

Alexya Campbell

A Rainha de Copas


      Em uma noite de sábado, Bruno Reis - que iria em uma festa – decidiu ir fantasiado de rainha de copas. Naquele momento da transformação, descobriu um novo desejo que até então era inexistente. Após essa festa, Bruno passou a pesquisar e entrar no universo Drag Queen e se encantou com as descobertas. Como ocorre normalmente nesse meio, Bruno Reis deu vida a Alexya Campbell há cerca de dois anos e meio. No momento da escolha do nome, Bruno juntou duas personagens que sempre admirou: Alexya sempre foi um nome que ele gostou, por ter uma pegada forte, além de haver uma personagem da novela Malhação com esse mesmo nome. Já o Campbell, Bruno escolheu pela modelo americana Naomi Campbell, na qual se inspira até hoje para se montar.


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     Como tudo que é diferente causa receio e preconceito, Alexya teve que batalhar para conseguir apoio e reconhecimento em sua nova arte. A família, inicialmente, não entendeu muito bem o conceito e logo de cara pensou que Bruno queria fazer uma transição para se tornar mulher. Para explicar melhor, Bruno usou uma princesa da Disney, a Cinderela, para explicar “disse a eles que é como ser a Cinderela de um modo um pouco diferente, de dia um menino e noite uma menina”. Aos poucos seus familiares foram entendendo e aceitando a arte drag queen na vida de Bruno e hoje apoiam totalmente suas decisões. No círculo de amizade, Bruno sempre teve o apoio de todos. 
       Antes de dar vida a Alexya, Bruno tinha um relacionamento com Pedro, que também já foi adepto a arte drag queen, mas teve que abandonar por preconceito familiar.  Quando começou a se interessar pela arte drag, Bruno se abriu com seu namorado e recebeu total apoio e incentivo. Era o gás que faltava para Alexya sair da imaginação e se tornar real. Pedro passou ajudar Bruno nas primeiras montagens, já que tinha experiência na escolha de roupas, acessórios e maquiagem. Se era preciso ser sincero e dizer que a roupa estava horrível, Pedro dizia. Mas foi graças a isso que hoje Alexya Campbell é uma das drag queens mais conhecidas de Piracicaba. 
      Com a rotina agitada entre seu trabalho em uma rede de farmácia e aparições em boates nos finais de semana, Alexya pretende continuar por muito tempo esse trabalho e se tornar uma drag conhecida nacionalmente. Mesmo se a fama ficar apenas em Piracicaba, Bruno não pretender abandonar a carreira tão cedo. Para sua vida como Bruno Reis Bonifácio, seu sonho é se tornar cabelereiro e maquiador profissional. 
       Entre todos os obstáculos que as drag queens passam, Bruno teve/tem um degrau a mais nessa caminhada. Por ser negro, ouviu muitos comentários que devia se montar com perucas, roupas e maquiagens no estilo afro, com cabelos cacheados. Porém, Alexya sempre se vestiu de maneira que se sente bem e feliz, no estilo mais feminino, com roupas neutras, maquiagem leve – apenas o batom vermelho –, salto alto e perucas de diversas cores e tipos, desde cacheado até o liso. Outro obstáculo que esteve presente em sua vida foi dentro do meio LGBT. Por se montar de uma forma mais feminina e não “caricata”, muitas pessoas passaram a dizer que Bruno na verdade queria ser uma travesti mas não tinha coragem de assumir, então se escondia na máscara drag.

Drama Graysky

Amor Pelas Artes 

Montado ou não, Guilherme só usa preto. Quieto e tímido, passou anos se escondendo e com dificuldade de se aceitar. E é através de um personagem, que hoje ele é o melhor que pode ser. 
Nascido em 15 de junho de 1993 em Piracicaba, Guilherme era uma criança com interesse por arte.  Desde pequeno se interessava por moda e arte, mas como a maioria dos meninos da sua idade fez futebol e artes marciais. Sempre teve um amor pela biologia e pelos animais e sempre gostou deles mais do que socializar com outras pessoas.

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Muito calmo, Guilherme fala da adolescência. Era tímido e quieto, não puxava papo com qualquer pessoa, mal saia, ficava nervoso por causa de tudo e os pais eram protetores, tinha poucos amigos, mas não ligava. 
Gay assumido, diz que foi difícil e estranho se descobrir. Sempre teve atração por meninos, mas achava que era passageiro, uma fase. Foi só através de terapia que conseguiu entender e aceitar o que era. Recorda que no começo foi difícil, mas aos poucos os pais foram entendendo e aceitando, enfrentou alguns problemas, mas se manteve fiel a quem ele é. 
Se Guilherme é um homem quieto, calmo e tímido, Drama é mais intensa. Assim que termina a maquiagem e coloca a peruca, nasce uma pessoa mais confiante e poderosa. Drama é a personalidade drag de Guilherme.


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     Com um sorriso no rosto, conta como entrou em contato com o universo drag através do reality “Rupaul’s Drag Race” que é um reality competitivo norte americano de Drag Queens. Quando começou a assistir se sentiu maravilhado com aquele mundo completamente novo. “Será que é isso que eu quero fazer? Sempre quis ser outra pessoa sabe, e desse jeito eu ia conseguir”. 
A drama agregou muita coisa ao Guilherme, que é obviamente feliz enquanto se maquia. Todo cuidado e dedicação ao processo de horas, demonstra o amor que ele tem pela arte. “Drama agregou muita coisa a minha vida, a arte, a criatividade, minha paixão por criar. E ir para aquele lugarzinho em que você não tem vergonha e pode ser você mesmo. “
A arte Drag o ajudou a fugir dos problemas, a ter uma identidade secreta. A ser uma pessoa mais aberta e que gosta de se expressar através da sua arte. “Eu nunca me odiei, mas hoje eu não mudaria por nada nada, amo quem eu sou. Hoje eu sou menos tímido, e prezo muito a amizade e tenho sorte de ter meus amigos. Amo sair, beber conversar e acima de tudo rir, eu sou uma palhaça, eu sou feliz.”

Lana Deville

     Livre, leve e Lana

  Nascido na cidade de Americana, Mateus Pereira, 20, reservado e introvertido, criou a drag Lana Deville - Lana por ser um nome do qual sempre gostou e Deville pela paixão por vilãs - em julho de 2016. Em busca de uma saída para a depressão, se jogou em um mundo cheio de brilho, lacração e glamour e você precisa conhecer.




    Em suas primeiras experiências na balada, Lana não estava totalmente segura e não tinha habilidade em andar de salto. Tombos na pista de dança e pancadas de cara com a porta são algumas situações que ocorreram até obter a prática de andar nesses sapatos.  
    Outras dificuldades que apareceram durante o processo de se tornar Lana foram: encontrar sua identidade e estilo (como inspiração estética levava consigo as características da personagem Victoria Grayson, do seriado Revenge), e conciliar tudo isso com as dificuldades financeiras.  

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    Os apoios de Mateus para que Lana se tornasse realidade em períodos difíceis foram sua mãe Vilma Moia Costa Pereira, 45, que no início teve dúvidas sobre a sexualidade do seu filho, mas após as explicações, aceitou completamente e abraçou a ideia; e também seu ex-namorado, que na época não compreendia a arte drag, mas após essa fase, contribuiu para que Lana continuasse em um constante processo de evolução. 
Apesar dos olhares preconceituosos nas ruas e restaurantes, se tornar drag permite que Lana se sinta poderosa, importante, uma voz que as pessoas querem ouvir, diferente de Mateus Pereira. 
    Para Lana, ser drag é ser arte. É toda uma forma de expressão. É dar ao público algo com que eles possam se identificar, é ser livre para ser e fazer aquilo que quiser e, toda essa experiência deu poder, para que ela consiga se interagir mais com as pessoas, levar sorrisos e conforto para quem precisa e até mesmo de desenvolver e mostrar seu talento como DJ.
    Após tocar em baladas (como Espaço Friends em Mogi Mirim e Luuv na cidade de Piracicaba), com a agenda cheia, seus planos são continuar se consolidando cada vez mais nessa carreira de Drag DJ, conhecer outras cidades, ter novas experiências, e quem sabe realizar sua maior meta: ser músico.

Morgana Simmons

Drag queen e mulher


Bárbara Regina de Castro, 23 anos, nasceu na cidade de São Pedro, interior paulista, apesar de ter passado a maior parte de sua infância na capital. Muito tímida e considerada “diferente” pelas outras meninas da escola pelo seu estilo mais “moleca”, usando roupas largas e boné, tinha dificuldade para fazer amizades. Naquela época, com pouca vaidade, a pequena Bárbara não imaginava que pudesse algum dia se interessar e ter contato com maquiagens e acessórios femininos, muito menos que isso se tornaria algo que a ajudaria superar seus problemas para lidar com as situações sociais da sua vida.




Seu primeiro contato com o “mundo drag” foi por meio de um reality show americano famoso, Rupaul’s Drag Race. Como a maioria das pessoas, no começo achava que era um lugar onde mulheres não poderiam pisar. Errado. Quando percebeu que a arte drag não impunha limites de gênero, seu interesse e vontade de se montar como as figuras que via no programa de tv cresceram, até que decidiu amadurecer a ideia e coloca-la em pratica. Nascia Morgana Simmons.
Morgana, uma referência à bruxa do programa dos anos 90 Castelo Rá-tim-bum, do qual gostava muito na infância, e Simmons, uma homenagem a uma de suas cantoras preferidas, Simone Simons, formam o nome da personagem. Uma mistura de todas as referências que tem de estilo e atitude de ídolos e figuras que admira, Morgana é sua válvula de escape. 
Segundo Bárbara, começar a fazer drag ajudou em muitos aspectos, principalmente a lidar com a depressão e a ansiedade, além de melhorar a autoestima, uma vez que sempre foi muito insegura com a sua aparência. Ela encara a arte como uma terapia que trouxe melhoras tanto para a sua vida pessoal, quanto para a vida social. Considera, inclusive, estar na sua melhor fase.
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      Em casa, recebe o apoio da família. Sua mãe, que gostou muito da ideia de Drag Queen, ajuda na hora de se vestir, colocar peruca e dar dicas de maquiagem. Até o irmão mais novo entrou na brincadeira. Rindo, Bárbara conta como ele coloca suas perucas e promete um dia se montar também para sair com ela nas festas na região.
Apesar de se dedicar bastante a atividade, a arte drag ainda é só um hobby. Bárbara trabalha como cozinheira e recentemente abriu o próprio negócio vendendo comida japonesa por encomenda. Contudo, conta como gostaria de ganhar mais visibilidade nesse meio artístico: “Eu queria ter mais visibilidade como mulher Drag, pra poder trazer isso pras pessoas, mostrar que as mulheres também fazem, podem e são tão capazes quanto Drags homens”.

Raava Graysky

      Drag é arte

       Para Mateus Henrique Sales Santana, Raava Graysky é a tela em branco que ele irá colorir como quiser, sem medo do que irão falar ou fazer. É o estudo do seu interior, do que sempre sentiu, mas nunca conseguiu externar. Segundo ele, Raava sempre esteve dentro dele e só vive por causa dele.
Há 19 anos, nascia ele em Piracicaba. Há um pouco menos de um ano, nascia ela. Mateus conheceu a arte drag pela internet e o reality show RuPaul’s Drag Race, programa norte-americano onde drags testam suas habilidades artísticas, como canto e dança. Entretanto, o interesse em se tornar Raava veio ao conhecer sua grande inspiração: Drama Graysky, que logo se tornaria sua “mãe drag” (base e inspiração para a filha drag iniciante, a mãe ensina truques de maquiagem, dicas de qual estilo seguir, etc.). Segundo Raava, assim que a viu, começou a treinar maquiagem para acompanhá-la nas noites da região piracicabana.
Seu nome surgiu de um desenho, sugerido por conhecidos em uma rede social, e o sobrenome herdado de sua mãe drag. No início de sua carreira como Raava, suas inspirações eram drag queens internacionais, mas com o passar do tempo, Lola Lewinsky – uma pessoa que se monta, mas não se considera drag – se tornou inspiração atual, por possuir uma aparência feminina, traços que Raava segue em sua montagem. Atualmente, Mateus possui o apoio de sua mãe para ser drag e que a experiência, inclusive, aproximou mãe e filho. Ele conta que a mãe empresta roupas e compra maquiagens para trazer Raava à vida.

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      O estilo de Raava é mais feminino (categoria fishy queen), com roupas e maquiagens mais delicadas, marcado pelo batom vermelho e sua peruca preta. Atualmente, trabalha como DJ, hostess e tequileira em festas da região de Piracicaba.
Entretanto, a vida de drag queen nem sempre foi fácil para Mateus, que afirma que os maiores desafios no começo foram a falta de ajuda e suporte, que podem prejudicar o desenvolvimento de uma persona. Outros obstáculos enfrentados são a falta de visibilidade, que dificulta na hora de investir e construir uma carreira profissional como drag.      O preconceito também é uma realidade nas praticantes dessa arte, como seguranças em festas que barram a entrada em banheiros femininos, fato que aconteceu com Raava uma vez. Ela relatou o fato para a produtora da festa que, após outros incidentes com o mesmo profissional, o demitiu. O preconceito também acontece na hora de se envolver amorosamente. Mateus sempre conta sobre Raava logo no começo da conversa e alguns se mostram interessados, outros inclusive relatam o desejo de se montar. Existe também aqueles que interrompem a conversa imediatamente.
      “Aquilo [ser drag] é uma arte e não uma coisa que vai estar ali vinte e quatro horas por dia, sendo assim, ele irá se envolver com uma pessoa que faz drag e não com a maquiagem no rosto dela”.
      Mateus é gay, mas condena o estereótipo que toda drag queen é homossexual, que ele também antes de ingressar no universo drag. Depois de conhecer homens heterossexuais e mulheres que também se montam, percebeu que drag é uma arte e não orientação sexual.

Nenny Park

Drag é o melhor remédio



“Deus fez o homem e a mulher, e eu vou beijar os dois”
Bissexual, Gabriel sonha em um dia conhecer e morar na Coréia do Sul, mesmo sabendo dos problemas que uma drag queen enfrentaria lá por conta da religião e tradições coreanas. Dentro desses sonhos, um mais bizarro, o de comprar uma peruca loira de 120cm de fio (!).
Natural de Águas de São Pedro, Gabriel Nieves Teixeira de Sousa de 20 anos hoje mora em Piracicaba. Gabriel dá vida a Nenny Park, drag do interior paulista, leva como principal inspiração Trixie Mattel, drag de um reality show famoso (RuPaul’s Drag Race)  e que alavancou uma onda de novas drag queens.



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    Como quase todas as drags mais recentes, Gabriel começou a se montar por conta do seriado. Trixie Mattel, drag cuja Gabriel se inspira tem um estilo mais falso, sua personalidade remete a de uma boneca, na qual ela representa na maquiagem, quase sempre lembrando a famosa boneca Barbie.
Nenny, que vem de uma junção de nomes de dois animais de estimação que Gabriel teve. Park é o primeiro nome de uma cantora sul-coreana que ele gosta muito. Na junção dos dois, nasceu o nome de sua drag queen: Nenny Park.
    Gabriel achou que teria problemas com sua família pelo fato de ter começado a se montar, mas era apenas coisa de sua cabeça. Não teve coragem de contar a seus pais que acabaram descobrindo sozinhos, e reagiram positivamente o que o espantou, pois esperava uma reação negativa.
     Segundo Gabriel, a criação de Nenny o ajudou a controlar a depressão. “Detesto olhar no espelho e ver o Gabriel, isso com certeza é uma das coisas que mais me incomoda na vida pessoal”. A escolha da maquiagem forte e que escondesse a imagem da pessoa “desmontada” passa por esse problema com a aceitação de quem ele é.
     Forte defensor do direito de que qualquer pessoa pode ser uma drag queen, Gabriel explica que qualquer pessoa pode se montar e se tornar uma drag. 
  “Toda drag é gay”, “Drag tem que ser feminina”, “Drag não pode ter barba”, “Mulher não pode fazer drag”, “Sua maquiagem tem que ser boa, senão você não está fazendo drag direito” são tipos de rótulos que a comunidade LGBT tem levado como verdades. Gabriel discorda totalmente dessas afirmações.
   Quando tenta definir a personalidade da Nenny ele pensa em ser referência para alguém e provar que existe bondade e felicidade em todos os lugares, de ser a felicidade, espontaneidade, bondade, e carinho ambulante, isso é a descrição da personalidade da Nenny.